Amigos rubronegros, com tantas decepções no campo da
política e do futebol, fica cada vez mais difícil separar o que é sonho e o que
é realidade. Na política, nosso papel é o de esperar que a cada eleição
possamos acertar no voto e colocar no Congresso os melhores representantes. Mas
as eleições são espaçadas por pelo menos dois anos, e uma vez cometido um erro
de avaliação, a correção demora, e o tempo faz o eleitor esquecer o que o seu
representante fez no período de eleito, de maneira que muitas vezes um mau político
acaba se reelegendo indefinidamente, até que um delator o comprometa ou um STF
em um dia bom autorize que o congressista seja processado. No futebol, os jogos
se sucedem a cada 3 ou 4 dias, e o humor dos torcedores varia com a mesma rapidez.
Em um jogo Cirino vai bem, faz cruzamentos certeiros e merece ficar no time. No outro, o mesmo
jogador se enrola sozinho e nem deveria ter vindo para o Flamengo. O time ganha
e os zagueiros foram um grande acerto e estamos fortes. O time perde e este
ataque não rende nada, o coro é de "Fora Guerrero", que também não deveria ter vindo, são
mais cartões do que gols, que absurdo é este?
O sonho de todo flamenguista é ter um time parecido
com o da década de 80, valente, que não conhecia o desânimo, que partia pra
cima depois de fazer o primeiro gol, que não se abatia se levasse um gol, e que
era capaz de enfrentar e humilhar qualquer outro time do mundo. Mas os
torcedores que ainda usam a razão quando analisam o futebol moderno, sabe que
dificilmente um time conseguiria reunir hoje um meio campo com jogadores do
quilate de Andrade, Adilio e Zico, ou laterais como Júnior e Leandro. Além da escassez
de craques oriundas de uma mesa base, amealhar estes jogadores nos outros times
é quase impossível, pelo menos no viciado futebol brasileiro, em que quase
todos os times vivem no devedor, incapazes de manter seus valores pelo tempo
necessário para que o time aprenda a jogar junto e obtenha o sucesso necessário
para mante-los. Lamento informar, mas isto é um sonho e não a realidade.
O Clube de Regatas do Flamengo, como qualquer outro
time brasileiro nos últimos tempos, vinha em uma descendente sem fim,
acumulando deficits seguidos e um futebol decadente. Alguns dizem que bancarrota era tal que "o Flamengo iria fechra as portas". Um feliz coincidência de
fatores e alguns jogadores fora de série nos levaram a um improvável Campeonato
Brasileiro de 2009, nos tirando de uma fila de 17 anos, e fazendo renascer o
mito de que o Flamengo, com a sua torcida inigualável, era o ponto fora da
curva, um clube que conseguiria superar as dificuldades financeiras e ser bem
sucedido apesar da pobreza geral do futebol brasileiro. Era um sonho. Mas a
realidade da Libertadores seguinte sepultou esse sonho e nos trouxe de volta à
rotina de brigar para não cair da primeira divisão de novo. A eleição do Blues,
uma Copa do Brasil de 2013 e um Campeonato Carioca de 2014 nos deu a ilusão de
que agora teríamos tanto um time bom quanto uma administração decente. Novo sonho
e novo despertar para a realidade. Nossa base campeã de 2011 não se firmou, e
nem podemos dizer que os garotos não tiveram chances. As chances apareceram e a
molecada, por razões diversas, não conseguiu se firmar no elenco principal. E
ao contrário da molecada do título de 1990, nossos jogadores não foram fazer
sucesso em outros times, como Marcelinho Carioca e Djalminha. Basta ver onde
estão Lorran, Negueba, Thomás, Adryan, Muralha ou Rafinha. Era um sonho, mas a
realidade foi diferente.
Então, aos amigos que reclamam de termos refugos e
jogadores bichados no nosso elenco, pergunto: Se não conseguirmos formar
jogadores na nossa base, como formar um time de craques em todas as posições? O
Flamengo conseguiu finalmente fomar um conjunto de jogadores para a zaga que
pode nos garantir algum sucesso defensivo neste resto de Campeonato, mas como
fez isto? Pechinchando, pagando parcelado, pegando jogadores que já mostraram
futebol mas não estavam jogando, reservas em outros time… Porque é o que dá
para contratar com os recursos disponíveis! Apesar de muitos terem sido contra,
me lembro de muitos elogios quando contratamos Luxemburgo e Muricy. Ou quando
trouxemos Guerrero, Sheik e Cirino. Menos palmas para Fernandinho, Chiquinho, Pará
e cia, mas eram necessários jogadores para compor o elenco, e tirando o Samir
(também combatido à época de sua saída), poucos que saíram tiveram oposição a
sua venda ou empréstimo. Ou alguém ainda defende a volta do Léo Moura, Wallace,
Muralha, Negueba, Rafinha, Negueba, Bressan, Airton ou Paulinho? A direção tem
errado sim, mas fazer sucesso não depende de apenas uma decisão acertada. Onde
consegue chegar hoje um time que não tem um CT decente para treinar? Ou em
estádio (mesmo que não seja seu) para exercer o seu mando de campo ?
É claro que existem muitos jogadores bons nos times
sul americanos, e que poderíamos ter sido nós a contratar o Copete ou o
Casares, mas os outros times também estão de olho e também possuem alguma bala
na agulha para fazer contratações. A realidade do Flamengo é essa, o sonho de
que em 2016 teríamos um time competitivo de verdade não se confirmou. Temos um
time formado com o que foi possível gastar e ainda carente de bons jogadores em
diversas posições. É com este time que nós vamos disputar os dois terços que restam
do Brasileirão 2016. É com eles que enfrentaremos a Sul Americana neste segundo
semestre. Em ambas as competições, chegar na Libertadores é o sonho máximo.
Vamos ver se a realidade sorrirá para a bem vestida nação rubronegra.
Por fim, ainda injuriado pelos 4 gols que levamos em
30 minutos de um futebol completamente diferente do que foram os 60 minutos
iniciais da partida, não posso deixar de expor minha tese sobre o Zé Ricardo. Treinador
de sucesso da nossa base, ainda “barato”, estudioso, bem relacionado com os
jogadores, é mais uma aposta que dependerá da nossa paciência e da tolerância
da torcida. Eu não tenho dúvida de que quando olho o futuro, faz muito mais
sentido insistir com um técnico caseiro como o Zé do que trazer um medalhão ultrapassado,
que vai levar 700 mil reais de salário e ficar gritando na beira do campo, como
se isso ganhasse jogo. É um técnico sem a experiência dos anos, e sem a
autoconfiança de quem se sente efetivo. Eu simplesmente não acredito que quando
o Zé olha para o futuro ele imagine o Marcio Araújo na equipe. Mas o “dedicado”
Araujo foi escolhido por TODOS os técnicos que ali passaram. Metade da torcida
hoje acha ele titular absoluto. Não adianta dizer que ninguém entende de
futebol, até porque a unanimidade não é só burra, ela é impossível. Eu acredito
que uma vez efetivado, o Zé vai promover as alterações necessárias para melhorar
o time e tanto os gringos (Donatti, Cuellar e Mancello) como os garotos
(Paquetá, Ronaldo) terão chance de mostrar o seu valor e quem sabe conquistar a
sua titularidade. Por enquanto, meu papel como torcedor é apoiar o time que
entrar em campo, mesmo que nele tenham jogadores que desaprovo ou acho que não
mereçam vaga no Flamengo. Que eventuais derrotas não sejam fatores decisivos
para mudar novamente de direção e com isso jogar fora tudo que já foi feito. A
realidade ainda é amarga, mas o sonho existe e vale a pena persegui-lo.
Pra cima deles, Mengão! Depois do Galo temos uma
sequencia mais razoável para marcar pontos e manter o sonho vivo!
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