domingo, 11 de dezembro de 2016

AGORA, SIM, FALANDO DE FUTEBOL E DE FLAMENGO



por Vagner Macedo
 Depois de um ano mais que atribulado, quando começamos a jornada com Muricy Ramalho falando em implantação de um MODELO PROFISSIONAL no Flamengo, temos muita coisa para analisar.
No início do ano, o nosso treinador Muricy demonstrou ter grande boa vontade e muita esperança em aplicar no Flamengo os conceitos de futebol que vem dando certo nos principais clubes do mundo. Futebol de compactação, de ocupação de espaços no campo adversário, de retomada de bola perto do gol e de gerar superioridade numérica para transformar a ocupação em chances de gol e, consequentemente, em números no placar. Ficou só na intenção...
Muricy Ramalho tinha o discurso parecido com o que ouvimos do Rogério Ceni em sua apresentação como técnico de futebol. Ideias muito bem desenvolvidas, conceitos muito bem explicados e intenção de propor o jogo e atacar o adversário o máximo que puder. MAS, pra isso, é necessário saber desenvolver os treinamentos da equipe. É necessário posicionar os jogadores e demonstrar, em cada situação de jogo, o que precisa ser feito por cada um desses jogadores.
Além de tempo, esse conceito de jogo precisa de outras duas coisas: de treinamento específico bem feito e bem planejado e, também, de jogadores capazes de desenvolver as funções de acordo com o plano de jogo. A partir daí, com o time funcionando a contento, seria possível introduzir (AOS POUCOS) variações táticas para serem usadas contra adversários específicos.
Muricy teve o tempo, mas não desenvolveu o treinamento de forma adequada. O time dele estava sempre muito exposto e nem sempre conseguia fazer com que a superioridade numérica no ataque se transformasse em vantagem no marcador. Resumindo, era uma bagunça que desperdiçava os talentos do time e aumentava a fragilidade dos jogadores medianos e ruins, especialmente os zagueiros.
Não fosse o problema de saúde, Muricy teria sido demitido antes da 10ª rodada do Brasileiro. Pois, o que víamos em campo estava longe, muito longe, do conceito de futebol citado no início deste texto. Aí veio o Zé Ricardo.
Zé Ricardo veio sem nenhuma credencial. Nenhuma porque ser técnico da base campeão da Copinha e nada é quase a mesma coisa. A diretoria tinha o nome de Abel Braga na ponta da língua, mas não concluiu a negociação por dois motivos: Abel tinha contrato até julho e dizia que só trabalharia no Brasil em 2017. Além, é claro, dos tão falados R$ 700 mil reais de salário mensal. Algo que ele não vale de jeito nenhum e provará isso dirigindo os Flores em 2017.
Mesmo sem credenciais, Zé Ricardo fez o mesmo elenco se transformar de uma hora pra outra. O time passou de candidato ao G-16 a candidato ao G-4 em poucas rodadas. A torcida, depois de 3 rodadas, já havia começado a “famigerada contagem dos 45 pontos” para não passar vergonha em 2017 e eis que, de repente, o time começou a ganhar os jogos e subir na tabela.
Entretanto, as deficiências do elenco se escancararam quando o “ZERO DOIS” Wallace pediu pra sair e, quase que simultaneamente, o Juan sofreu uma contusão relativamente grave nessa mesma 3ª rodada. E o Zé se viu obrigado a usar a dupla de zaga com Léo Duarte e César Martins (dispensado dos treinos dias antes) até que se concretizasse a chegada de novos zagueiros. Algo que só aconteceu na 8ª rodada com a estreia do Réver contra o Cruzeiro no Mineirão.
Ou seja, VOLTEMOS AO DIA 29/05/2016, dia em que o Zé Ricardo recebeu o arremedo de time deixado pelo Muricy e pelo Jaime e estreou no Brasileiro vencendo a Ponte Preta fora de casa.
O que você faria se fosse um técnico recém-promovido, sem respaldo da diretoria ou da torcida, com o elenco mal treinado, sem estádio no Rio de Janeiro pra jogar, sem zagueiros confiáveis e sem atacantes decisivos??
Zé Ricardo fez o que qualquer treinador nessas condições faria. Ou seja, fortaleceu o sistema defensivo ao mudar a postura e o posicionamento de alguns jogadores, especialmente o 2º volante William Arão. Apostou na intensidade de jogo com jogadores rápidos e de boa recomposição defensiva pelos lados do campo (Éverton, Cirino, Gabriel e Ederson) e intensificou os treinamentos para fazer tudo aquilo que o Muricy Ramalho não conseguiu fazer: compactação, ocupação de espaços, intensidade, superioridade numérica no campo adversário e, com isso, gerar vantagem no placar.
O time do Zé Ricardo conseguiu fazer QUASE tudo isso. Faltou, em muitos momentos, algo que foge do controle do treinador: a falta de efetividade dos atacantes para marcar os gols. Tanto que o Flamengo foi um dos times que mais chances criou no campeonato. Mas, que esbarrou em uma deficiência técnica absurda de seus atacantes para marcar gols. Ou seja, estatisticamente eram necessárias 10 conclusões para que fizéssemos 1 gol. E isso fez falta, muita falta, em jogos decisivos do Brasileirão.
Basta lembrar de jogos como os contra o Galo (em BH) e contra o Coritiba (no Maracanã). Jogos em que fomos muito superiores, mas não conseguimos vencer por termos desperdiçado chances claríssimas de gol para garantir a vitória. O que foi fatal para a disputa do título.
Vejam só, até o momento, eu falei apenas de tática e de técnica. Não considerei ainda um fator primordial na análise de desempenho do time do Flamengo durante o ano: O ASPECTO FÍSICO.
O time do Flamengo foi, de longe, o time que mais viajou no ano de 2016. Eu cheguei a fazer um compilado de viagens do time em certo período do ano para ter uma ideia do desgaste dos jogadores. E apurei que, depois do jogo contra o Botafogo na Ilha do Governador (17/07), o Flamengo fez nada mais nada menos que 17 viagens (ida e volta) de avião entre os dias 23/07 (jogo contra o América-MG em Cariacica) e 01/10 (jogo contra o São Paulo no Morumbi). Ou seja, em um período de 70 dias, o Flamengo teve 32 deslocamentos (já que emendou alguns trechos sem retornar ao Rio) o que significa uma viagem a cada 3 dias (ou menos).
E não é só em relação ao desgaste físico que estamos falando. Lembram-se de que falei do tempo necessário para treinar o time e ter variações táticas ao esquema principal? Pois bem, o Flamengo não teve esse tempo para desenvolver uma alternativa de esquema confiável. Afinal, o time estava viajando nos momentos em que poderia estar treinando e/ou descansando. Mais um problema: o DESGASTE EMOCIONAL que tantas viagens provocam.
O reflexo disso foi visto por todos nós. Vimos um time sem a mesma força física para imprimir seu ritmo de jogo durante os 90 minutos na reta final do campeonato. Muitas vezes, tínhamos um 1º tempo primoroso e um 2º tempo sofrível (mesmo com alterações), pois não é permitido trocar mais que 3 jogadores.
Enfim, NENHUM OUTRO TIME teve esses mesmos problemas durante o ano. Pelo menos nenhum dos times que ficou na parte de cima da tabela e na disputa direta pelo título. Santos reclamou de ter jogado UM jogo fora do estado de São Paulo. Palmeiras reclamou de ter jogado uns 3 jogos no Pacaembu e em Araraquara. INACREDITÁVEL!! Enquanto isso, nós viajávamos o tempo todo até para jogarmos como mandante.
Eu me pergunto, será que o resultado do campeonato seria o mesmo se nós tivéssemos as mesmas condições dos rivais? Ou, invertendo a pergunta, será que os rivais teriam uma campanha como a nossa se tivessem as mesmas dificuldades? Tenho muitas dúvidas disso. Mas, uma coisa é certa: DESCONSIDERAR ESSES FATORES, em qualquer análise que se faça do campeonato, é um completo ABSURDO!
Por tudo isso, considero primoroso o trabalho desenvolvido pelo técnico Zé Ricardo à frente do Flamengo. Introduziu um padrão tático ao time que foi elogiado por todos os analistas de futebol do país. E mostrou um “controle de vestiário” invejável para quem esteve à frente de seu primeiro trabalho com um elenco profissional. E mais, um elenco profissional no Flamengo, o que é bem diferente, por exemplo, de dirigir um time na série B ou de menor expressão na série A.
É lógico que ele teve seus deslizes e algumas falhas graves em determinados jogos. Mas, longe, muito longe, de deixar o time sem rumo e dependendo apenas do talento individual de seus jogadores (como fez Marcelo Oliveira no Galo, por exemplo). O time do Flamengo tem padrão de jogo, excelente posicionamento, sabe o que fazer para atacar e o que fazer para se defender. Não sofre com a bola parada defensiva e conseguiu fazer alguns gols na bola parada ofensiva. E, com isso, fez a MELHOR CAMPANHA DA HISTÓRIA NOS PONTOS CORRIDOS.
Portanto, com algumas correções na formatação do elenco; Zé Ricardo com mais tempo de trabalho e mais confiança por ser o técnico efetivo desde o começo do ano; com CT finalizado; com estádio pra jogar no Rio de Janeiro & com todos os principais jogadores desde a pré-temporada, É POSSÍVEL prever um ano de 2017 bastante promissor.
A torcida precisa apoiar o time. E a melhor maneira de fazer isso é separando o “joio do trigo”, ou seja, saber cobrar da diretoria o que cabe à diretoria; cobrar do treinador o que cabe ao treinador e cobrar dos atletas o que cabe aos atletas. Ser o mais racional possível na cobrança e na análise.
Eu sei que é difícil a torcida ter esse tipo de comportamento. Afinal, torcedor é um ser emotivo. Mas, vale lembrar que, nas últimas décadas, sempre que diretoria e comissão técnica agiram de forma emotiva (irracional), os resultados foram catastróficos. Vale lembrar: “ataque dos sonhos” e contratação do Ronaldinho Gaúcho, por exemplo. Então, façamos a coisa certa, pois tem muito clube por aí fazendo besteira. E o resultado? Bem, o resultado sempre é compatível com as ações. Se você faz besteiras, colhe resultados ruins; se você trabalha corretamente, colhe bons resultados. Não tem mágica!! E a boa notícia é que estamos finalmente trabalhando corretamente.


SRN a todos!!

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