terça-feira, 29 de novembro de 2016

Não era bem disso que eu queria falar...


Prólogo do Editor: Amigos Conversantes, é com grande alegria que anuncio a estreia de mais um colunista neste espaço, o Vagner Macedo. Eu li dois textos do Vagner no Facebook, e me chamou a atenção o cuidado e o espírito rubronegro que permeava as suas palavras. Cuidado de quem quer o bem do Flamengo e o espírito de crítica construtiva e embasada. Espero que gostem e manifestem suas concordâncias e discordâncias com a mesma intensidade que temos tido aqui no blog. Ele está avisado que aqui todos podem falar o que pensam, e concordar ou discordar faz parte do jogo. Portanto, seja bem vindo Vagner, e aproveite a oportunidade para falar do Mengão, enquanto o resto da turma curte um "chinelinho".
Saudações Rubro-Negras a todos!!!
A convite do nosso estimado colega Victor Esteves, estou tendo a oportunidade de dividir algumas ideias com os nobres rubro-negros frequentadores desta página. Espero estar à altura das discussões e espero também poder levar um pouco da minha visão sobre o que eu acho do futebol atual e o que eu penso do que está acontecendo e, mais importante, do que pode acontecer com o nosso amado Mengão.
Eu sou de Brasília, servidor público, radicado em Salvador há menos de 1 ano e torcedor do Flamengo desde sempre. Dito isso, acho que não preciso tecer mais detalhes sobre a minha pessoa, já que a “aura rubro-negra” é mais do que suficiente para que nos identifiquemos como iguais (ou quase isso). Então, vamos nós!
Entretanto, o assunto inicial aqui não poderia deixar de ser a tragédia ocorrida com a bravíssima equipe da Chapecoense. Clube que, a exemplo do Mengão, nunca foi rebaixado em sua história e que já demonstrou ter o espírito dos grandes. Sabendo reconhecer a glória dos rivais e sabendo respeitar as tradições do futebol brasileiro.
Clube que sabe respeitar os seus limites e, por causa disso, vem se mantendo bravamente (e sem sustos) na série A do Brasileirão há 4 anos. E, mais do que isso, consegue subir um degrauzinho ano a ano em função de seu ótimo planejamento financeiro e do apoio de toda uma comunidade.
Estavam prestes a disputar aquele que, muito provavelmente, seria o título mais importante dentro das possibilidades de um clube como o deles. Era a “Copa do Mundo” para Chapecó. E o espírito deles e da cidade refletia isso. Infelizmente, não aconteceu...
E o que isso nos ensina??
Acho que o principal nessa tragédia toda é perceber que o futebol é a “coisa mais importante entre as coisas menos importantes” que existem. Segundo Mauro Cézar Pereira, da ESPN, futebol é a melhor invenção do homem em todos os tempos. Mas que perde muito do seu sentido quando vidas humanas são perdidas de forma tão inesperada. Quando vários jovens, a maioria com menos de 25 anos, são vitimados pelo acaso.
Isso faz com que as pessoas reflitam sobre o que é, de fato, importante. Presidentes de clubes rivais já demonstraram vontade de ajudar a Chapecoense a se manter na trajetória fantástica que ela desenhava. Pessoas que, pelo menos neste momento, parecem dispostas a não deixar a chama de um clube tão jovem se apagar por causa de fatos tão imprevisíveis.
Uma tragédia que pode até ter o seu lado bom. E que pode abrir o diálogo entre dirigentes no sentido de se encontrar uma forma melhor de conduzir o futebol brasileiro. Ainda mais quando percebemos que o mais importante não é só ganhar. Mas, sim, a forma como se ganha.
O Atlético Nacional de Medellín abriu mão do título da Sulamericana. Já disse (não com as palavras que eu vou usar) que não quer uma taça “manchada de sangue”. E que gostaria mesmo é de ter que disputá-la dentro de campo contra um honroso adversário (que jamais seria um inimigo). Pois, essa sim, é a essência do esporte!
E essa mensagem de que nós não temos inimigos no esporte é o mais importante a ser aprendido aqui. Saber que o Vasco e seus torcedores são adversários, idem para Corinthians, Palmeiras, Santos, Fluminense, Botafogo, etc... Nunca, jamais, serão inimigos.
E que a graça em derrotá-los está justamente no prazer em poder brincar com o resultado em campo. Eu disse “brincar”, jamais “brigar”. Pois essa não é a essência do esporte, nenhum esporte. Pois, quando se perde isso, somos obrigados a ter divisão de torcidas com isolamento físico e “cordão de policiais” nos estádios. Somos obrigados a sair meia-hora mais tarde ou mais cedo que os torcedores do outro time por causa dessa distorção causada na mente dos idiotas: a de que o torcedor do outro time é um inimigo; ou que o outro time seja inimigo. NÃO SÃO!!!
A Chapecoense vem ensinando coisas essenciais para todos nós, fãs do futebol brasileiro. E a principal delas talvez tenha sido a forma como se comportar dentro de suas possibilidades. E que, fazendo as coisas do jeito certo, é possível fazer coisas maiores.
O Flamengo, por exemplo, quando acordou para essa realidade e passou a se comportar de forma mais responsável, distanciou-se do caminho da insolvência financeira e passou a assustar os adversários. Coisa que a Chapecoense vinha fazendo bem desde 2005 e que, com o trabalho constante e persistente, passou a dar frutos permanentemente a partir de 2009 com os seguidos acessos e chegada à Série A do Brasileiro.
E é nisso que devemos nos espelhar. Saber que o trabalho bem feito, INDUBITAVELMENTE, trará bons resultados no médio e no longo prazos. E que as sementes que estamos plantando desde 2013 também nos darão frutos de forma permanente. A nossa colheita, para quem não percebeu, já começou a mostrar a “cara” com a campanha do Brasileiro deste ano.
Bom, como está escrito no título deste texto, não era bem disso que eu gostaria de falar hoje. Mas, fiz esse paralelo entre o gigante Flamengo e a brava Chapecoense pra mostrar que não existem segredos mirabolantes na condução do futebol. E que saber fazer o certo já nos dá uma grande vantagem sobre aqueles que insistem em fazer as coisas erradas.
A reorganização financeira e a boa gestão salvaram a Chapecoense, literalmente, da falência. Algo que também estava começando a “bater à nossa porta”. E que tentar acelerar alguns processos quase sempre é mais custoso que deixar a situação se estabelecer de forma programada. Pois é preciso respeitar o tempo necessário de maturação.
E é por causa disso que eu sei que o nobre clube catarinense se erguerá em um futuro muito breve. Pois eles, a duras penas, aprenderam que não se pode queimar etapas para conseguir resultados consistentes. E que mesmo essa tragédia não irá tirá-los do caminho certo.
Da parte do Flamengo, espero que aproveite a oportunidade para estreitar os laços com os demais clubes fora de campo. E que, uma vez desarmados do egoísmo, os dirigentes consigam ser produtivos para trabalhar no interesse de todo o futebol brasileiro. Expurgando aqueles que só atrapalham e agregando aqueles que querem o melhor para o esporte.
Se essa tragédia for suficiente para conseguir esse consenso, ou a paz entre dirigentes e torcedores, pelo menos algo de bom terá surgido no meio de tanta dor e sofrimento. É esperar e torcer.
 SRN
Vagner Macedo