INDIGNA AÇÃO

Amigos do Conversa Flamenga, nesta segunda feira o STJD tem uma oportunidade ímpar de iluminar o Brasil inteiro de esperança para o futuro, não só do futebol, mas da própria sociedade brasileira. Na decisão que sairá do tribunal estará demonstrado a verdadeira face do nosso país, se a do “jeitinho” e das manipulações espúrias, ou a da manutenção do puro espírito esportivo.

Infelizmente, em toda essa correria para vender jornais, audiência e cliques em “curtir”, poucos são os que se lembram que o futebol é um esporte, e como tal, muito diferente da guerra. É preciso que o povo brasileiro, incluindo aí os responsáveis pelo julgamento desta segunda feira, tenham em mente que o futebol não é uma guerra. Nenhuma paixão clubística justifica atos como o de “torcedores” que comparecem ao estádio para brigar com os torcedores adversários. Da mesma forma, NADA justifica alterar resultados em campo com artimanhas jurídicas ou a busca de brechas no regulamento. A Justiça Esportiva deve lutar pela manutenção das condições de igualdade entre os competidores e não prejudicar um dos lados quando o outro não obteve nenhuma vantagem real. Ou alguém acha que as escalações de André Santos ou do jogador da Lusa trouxe algum tipo de vantagem para os seus clubes ? Assim, usar deste artifício para jogar para a segunda divisão um time que conquistou em campo o direito de permanecer na elite do futebol, não é só imoral e absurdo, é INDECENTE!

Que partidas estariam sendo anuladas para que uma possível punição ao Flamengo fosse efetivada? Para perder 4 pontos, o Flamengo teria que deixar de contar em seus pontos, com pelo menos uma vitória (onde ganhou 3 pontos) e um empate, para compensar o quarto ponto "perdido". Por mais que se diga que a perda de pontos é no "total de pontos", na prática, estamos falando que uma vitória, um dia em que o jogo acabou e nós nos sentimos felizes, não valeu absolutamente nada. O espírito esportivo não permite este tipo de logro no esporte. 

O esporte não é uma guerra, e esse sempre foi o seu diferencial e a razão de ser uma nobre atividade humana.

Uma pequena reflexão sobre as consequências deste tipo de movimento se faz necessária. Tenho visto muita gente boa, de boa família ou formação, jovens incapazes de praticar qualquer coisa ilegal ou injusta, defenderem as medidas ajuizadas por seus clubes, como se isso fosse “justo” ou correto. O que acontecerá em suas vidas quando forem prejudicados em seus direitos por este tipo de má fé e de “jeitinho”? Lembrar-se-ão de que apoiaram o mesmo estratagema quando o beneficiado era o seu clube de coração? Estão prontos a abrirem mão da Justiça e da luta por um mundo mais justo em troca do pensamento de que “o mundo é dos espertos”?

Em 1936, ao publicar “Raízes do Brasil”, Sérgio Buarque de Holanda, um dos maiores historiadores brasileiros, cunhou a expressão de que o “brasileiro é um homem cordial”. Para quem não teve a oportunidade de conhecer a obra deste gigante intelectual, vale dizer que o significado da sua frase não quer dizer que o brasileiro e dócil e pouco chegado em conflitos. “CORDIAL”, nesse caso, significa que suas ações são emocionais, por virem do CORação. Assim, a razão ou a lógica perdem espaço para acordos baseados na emoção e na troca de favores. Uma das explicações mais interessantes que já vi foi a que baseia este tipo de comportamento em duas vertentes básicas: A existência do “compadrio” (relações afetivas que se sobrepõe às leis e às regras estabelecidas – da qual o nepotismo é uma das faces) e à criação das nossas leis sempre de forma unilateral, de cima para baixo e sem participação da população. Não quero transformar uma simples coluna de um blog que fala sobre futebol em um tratado de sociologia ou de análise do caráter nacional. Mas o fato é que esta mesma lógica do “jeitinho” ou do “levar vantagem em tudo” é que legitima perante boa parte da sociedade este comportamento, que se fosse em países com maior maturidade de sua sociedade, seriam apenas motivo de piadas e de escárnio.

Por isso comecei dizendo que neste julgamento há uma oportunidade única de banirmos, senão de vez, pelo menos em um primeiro passo, essa pouca vergonha que é a conspurcação do espírito esportivo e da consciência nacional, anestesiada por vantagens imediatas, e que modela para sempre o caráter de tantos brasileiros. Poderia escrever muitas linhas mais para descrever a indignação do desportistas “de bem”. Mas prefiro fechar com um das declarações mais notáveis que ouvi de um presidente do Flamengo em todos os tempos, já que ele disse que podemos escrever isso:

“- Isso você pode escrever. Enquanto nosso grupo estiver no Flamengo, o Flamengo nunca vai usar esse tipo de expediente. Disputar a Série B não é nenhuma vergonha. Vergonha é o golpe que estão tentando dar. Nós estamos tentando moralizar o futebol brasileiro, assumir nossas dívidas, pagar em dia, e agora querem mudar os resultados do campo, que é o de mais sagrado há no futebol. É uma atitude indesculpável.”

Saudações RubroNegras e que vença a moralidade e o espírito esportivo!