por Vagner Macedo
Depois de
um ano mais que atribulado, quando começamos a jornada com Muricy Ramalho
falando em implantação de um MODELO PROFISSIONAL no Flamengo, temos muita coisa
para analisar.
No início
do ano, o nosso treinador Muricy demonstrou ter grande boa vontade e muita
esperança em aplicar no Flamengo os conceitos de futebol que vem dando certo
nos principais clubes do mundo. Futebol
de compactação, de ocupação de espaços no campo adversário, de retomada de bola
perto do gol e de gerar superioridade numérica para transformar a ocupação em
chances de gol e, consequentemente, em números no placar. Ficou só na
intenção...
Muricy
Ramalho tinha o discurso parecido com o que ouvimos do Rogério Ceni em sua
apresentação como técnico de futebol. Ideias muito bem desenvolvidas, conceitos
muito bem explicados e intenção de propor o jogo e atacar o adversário o máximo
que puder. MAS, pra isso, é necessário saber desenvolver os treinamentos da
equipe. É necessário posicionar os jogadores e demonstrar, em cada situação de
jogo, o que precisa ser feito por cada um desses jogadores.
Além de
tempo, esse conceito de jogo precisa de outras duas coisas: de treinamento
específico bem feito e bem planejado e, também, de jogadores capazes de
desenvolver as funções de acordo com o plano de jogo. A partir daí, com o
time funcionando a contento, seria possível introduzir (AOS POUCOS) variações
táticas para serem usadas contra adversários específicos.
Muricy teve
o tempo, mas não desenvolveu o treinamento de forma adequada. O time dele
estava sempre muito exposto e nem sempre conseguia fazer com que a
superioridade numérica no ataque se transformasse em vantagem no marcador.
Resumindo, era uma bagunça que desperdiçava os talentos do time e
aumentava a fragilidade dos jogadores medianos e ruins, especialmente os
zagueiros.
Não fosse o
problema de saúde, Muricy teria sido demitido antes da 10ª rodada do
Brasileiro. Pois, o que víamos em campo estava longe, muito longe, do conceito
de futebol citado no início deste texto. Aí veio o Zé Ricardo.
Zé Ricardo
veio sem nenhuma credencial. Nenhuma porque ser técnico da base campeão da
Copinha e nada é quase a mesma coisa. A diretoria tinha o nome de Abel Braga na
ponta da língua, mas não concluiu a negociação por dois motivos: Abel tinha
contrato até julho e dizia que só trabalharia no Brasil em 2017. Além, é claro,
dos tão falados R$ 700 mil reais de salário mensal. Algo que ele não vale de
jeito nenhum e provará isso dirigindo os Flores em 2017.
Mesmo sem
credenciais, Zé Ricardo fez o mesmo
elenco se transformar de uma hora pra outra. O time passou de candidato ao
G-16 a candidato ao G-4 em poucas rodadas. A torcida, depois de 3 rodadas, já havia começado a “famigerada contagem dos
45 pontos” para não passar vergonha em 2017 e eis que, de repente, o time
começou a ganhar os jogos e subir na tabela.
Entretanto,
as deficiências do elenco se escancararam quando o “ZERO DOIS” Wallace pediu
pra sair e, quase que simultaneamente, o Juan sofreu uma contusão relativamente
grave nessa mesma 3ª rodada. E o Zé se viu obrigado a usar a dupla de zaga com
Léo Duarte e César Martins (dispensado dos treinos dias antes) até que se
concretizasse a chegada de novos zagueiros. Algo que só aconteceu na 8ª rodada
com a estreia do Réver contra o Cruzeiro no Mineirão.
Ou seja, VOLTEMOS AO DIA 29/05/2016, dia em que
o Zé Ricardo recebeu o arremedo de time deixado pelo Muricy e pelo Jaime e
estreou no Brasileiro vencendo a Ponte Preta fora de casa.
O que você faria se fosse um técnico
recém-promovido, sem respaldo da diretoria ou da torcida, com o elenco mal
treinado, sem estádio no Rio de Janeiro pra jogar, sem zagueiros
confiáveis e sem atacantes decisivos??
Zé Ricardo
fez o que qualquer treinador nessas condições faria. Ou seja, fortaleceu o
sistema defensivo ao mudar a postura e o posicionamento de alguns jogadores,
especialmente o 2º volante William Arão. Apostou na intensidade de jogo com
jogadores rápidos e de boa recomposição defensiva pelos lados do campo
(Éverton, Cirino, Gabriel e Ederson) e intensificou os treinamentos para fazer
tudo aquilo que o Muricy Ramalho não conseguiu fazer: compactação, ocupação de
espaços, intensidade, superioridade numérica no campo adversário e, com isso,
gerar vantagem no placar.
O time do
Zé Ricardo conseguiu fazer QUASE tudo
isso. Faltou, em muitos momentos, algo que foge do controle do treinador: a
falta de efetividade dos atacantes para marcar os gols. Tanto que o Flamengo
foi um dos times que mais chances criou no campeonato. Mas, que esbarrou em uma
deficiência técnica absurda de seus atacantes para marcar gols. Ou seja,
estatisticamente eram necessárias 10 conclusões para que fizéssemos 1 gol. E
isso fez falta, muita falta, em jogos decisivos do Brasileirão.
Basta
lembrar de jogos como os contra o Galo (em BH) e contra o Coritiba (no
Maracanã). Jogos em que fomos muito superiores, mas não conseguimos vencer por
termos desperdiçado chances claríssimas de gol para garantir a vitória. O que
foi fatal para a disputa do título.
Vejam só,
até o momento, eu falei apenas de tática e de técnica. Não considerei ainda um
fator primordial na análise de desempenho do time do Flamengo durante o ano: O ASPECTO FÍSICO.
O time do
Flamengo foi, de longe, o time que mais viajou no ano de 2016. Eu cheguei a
fazer um compilado de viagens do time em certo período do ano para ter uma
ideia do desgaste dos jogadores. E apurei que, depois do jogo contra o Botafogo
na Ilha do Governador (17/07), o Flamengo fez nada mais nada menos que 17 viagens (ida e volta) de avião entre
os dias 23/07 (jogo contra o América-MG em Cariacica) e 01/10 (jogo contra o
São Paulo no Morumbi). Ou seja, em um período de 70 dias, o Flamengo teve 32
deslocamentos (já que emendou alguns trechos sem retornar ao Rio) o que
significa uma viagem a cada 3 dias (ou menos).
E não é só
em relação ao desgaste físico que estamos falando. Lembram-se de que falei do
tempo necessário para treinar o time e ter variações táticas ao esquema
principal? Pois bem, o Flamengo não teve esse tempo para desenvolver uma
alternativa de esquema confiável. Afinal, o time estava viajando nos momentos
em que poderia estar treinando e/ou descansando. Mais um problema: o DESGASTE EMOCIONAL que tantas viagens
provocam.
O reflexo
disso foi visto por todos nós. Vimos um time sem a mesma força física para
imprimir seu ritmo de jogo durante os 90 minutos na reta final do campeonato.
Muitas vezes, tínhamos um 1º tempo primoroso e um 2º tempo sofrível (mesmo com
alterações), pois não é permitido trocar mais que 3 jogadores.
Enfim, NENHUM OUTRO TIME teve esses mesmos
problemas durante o ano. Pelo menos nenhum dos times que ficou na parte de cima
da tabela e na disputa direta pelo título. Santos reclamou de ter jogado UM
jogo fora do estado de São Paulo. Palmeiras reclamou de ter jogado uns 3 jogos no
Pacaembu e em Araraquara. INACREDITÁVEL!! Enquanto isso, nós viajávamos o tempo
todo até para jogarmos como mandante.
Eu
me pergunto, será que o resultado do campeonato seria o mesmo se nós tivéssemos
as mesmas condições dos rivais? Ou, invertendo a pergunta, será que os rivais
teriam uma campanha como a nossa se tivessem as mesmas dificuldades? Tenho
muitas dúvidas disso. Mas, uma coisa é certa: DESCONSIDERAR ESSES FATORES, em qualquer análise que se faça do
campeonato, é um completo ABSURDO!
Por tudo
isso, considero primoroso o trabalho desenvolvido pelo técnico Zé
Ricardo à frente do Flamengo. Introduziu um padrão tático ao time que foi
elogiado por todos os analistas de futebol do país. E mostrou um “controle de
vestiário” invejável para quem esteve à frente de seu primeiro trabalho com um
elenco profissional. E mais, um elenco profissional no Flamengo, o que é bem
diferente, por exemplo, de dirigir um time na série B ou de menor expressão na
série A.
É lógico
que ele teve seus deslizes e algumas falhas graves em determinados jogos. Mas,
longe, muito longe, de deixar o time sem rumo e dependendo apenas do talento
individual de seus jogadores (como fez Marcelo Oliveira no Galo, por exemplo).
O time do Flamengo tem padrão de jogo, excelente posicionamento, sabe o que
fazer para atacar e o que fazer para se defender. Não sofre com a bola parada
defensiva e conseguiu fazer alguns gols na bola parada ofensiva. E, com isso,
fez a MELHOR CAMPANHA DA HISTÓRIA NOS
PONTOS CORRIDOS.
Portanto,
com algumas correções na formatação do elenco; Zé Ricardo com mais tempo de
trabalho e mais confiança por ser o técnico efetivo desde o começo do ano; com
CT finalizado; com estádio pra jogar no Rio de Janeiro & com todos os
principais jogadores desde a pré-temporada, É POSSÍVEL prever um ano de 2017 bastante
promissor.
A torcida
precisa apoiar o time. E a melhor maneira de fazer isso é separando o “joio do
trigo”, ou seja, saber cobrar da diretoria o que cabe à diretoria; cobrar do
treinador o que cabe ao treinador e cobrar dos atletas o que cabe aos atletas. Ser
o mais racional possível na cobrança e na análise.
Eu sei que
é difícil a torcida ter esse tipo de comportamento. Afinal, torcedor é um ser
emotivo. Mas, vale lembrar que, nas
últimas décadas, sempre que diretoria e comissão técnica agiram de forma
emotiva (irracional), os resultados foram catastróficos. Vale lembrar: “ataque
dos sonhos” e contratação do Ronaldinho Gaúcho, por exemplo. Então, façamos a
coisa certa, pois tem muito clube por aí fazendo besteira. E o resultado? Bem, o resultado sempre é compatível com as
ações. Se você faz besteiras, colhe resultados ruins; se você trabalha
corretamente, colhe bons resultados. Não
tem mágica!! E a boa notícia é que estamos finalmente trabalhando
corretamente.
SRN a
todos!!